sexta-feira, 2 de março de 2012

2 de Março - Mãe / Pai

Post extenso, atendendo ao tema muito especial para mim.

Mãe / Pai. Os dois. São, cada um à sua maneira, os meus heróis. Os meus pontos de referência. Eu só espero que os meus filhos um dia tenham tanto orgulho em mim, como eu tenho nos meus pais. E seria totalmente impossível escolher um dos dois.

O meu pai. Tal como eu perdeu o pai dele aos 15 anos. Vindo de uma família de 7 irmãos, era o mais novo e foi um "engano da menopausa". A vida não era fácil e fez um bocadinho de tudo durante a sua vida. Desde pastor, passando por aprendiz de sapateiro, nenhum trabalho o assustava. Veio da pequena aldeia para a grande cidade de Lisboa aos 18 anos com apenas a 4.ª classe. Alguns anos depois, com muita "pestana queimada" chegou ao 2. ano de Matemática na Universidade. Não continuou mais porque o emprego que tinha na altura (e que manteve até ao final da vida) não criava qualquer condição especial para trabalhadores estudantes e o horário do curso não era compatível com o trabalho. Fez gato sapato para que não faltasse nada à sua família, mesmo em seu prejuízo. Todos o estimavam, deixou marcas em todos os que o conheceram. Era um matemático brilhante. Ensinava-a com mestria aos outros e todos o recordam como um excelente professor. Com ele aprendi também o prazer da música, com ela aprendi o prazer da leitura, com ele aprendi que se pode ser forte mas também fraco, duro mas também sensível, e que não há mal nenhum nisso. Perdi-o demasiado cedo, quando possivelmente precisava mais dele, e quando finalmente ele entrava numa fase de estabilidade a todos os níveis, em que previa um futuro risonho para si e para nós. Sempre ouvi dizer que só os bons é que morrem cedo, os maus ficam cá para nos azucrinar. Ele era um dos bons. Tenho muitas, muitas, muitas saudades dele.

E a minha mãe. A minha mãe não veio da aldeia, nasceu aqui em Lisboa, mas também não teve uma vida nada, nada fácil. Nasceu no seio de uma família pobre e completamente disfuncional, era a mais velha de três irmãos, e foi rejeitada pela mãe em pequenina. Ainda viveu alguns anos com ela (demasiados no meu ver), mas felismente uma tia (irmã do meu avô) "adoptou-a"e educou-a como ela merecia. Até esse momento, passou fome (ela conta episódios de a avó andar "aos caixotes" na praça, para conseguir fruta e legumes que se pudessem aproveitar), sofreu abusos psicológicos (fico na dúvida se também físicos, mas isso ela não conta), enfim, teve uma vida que nenhuma criança deve ter. Quando a tia (lembram-se dos livros antigos de uma tia minha? Era esta...) a "apanhou", deu-lhe uma vida condigna e, apesar de não ter avançado muito na escola (ficou-se pela 4.ª classe), a minha mãe nunca cruzou os braços para provar que merecia essa vida. Tal como o meu pai, fez um bocadinho de quase tudo, só tendo deixado de trabalhar por mim que necessitei de cuidados especiais de saúde nos meus primeiros anos de vida. Com a vinda da minha irmã (tal como o meu pai, ela também foi uma surpresa, apesar de por motivos diferentes), resolveu dedicar-se exclusivamente a nós (e ao meu pai). Era a minha mãe, uma mãe normal, tínhamos uma relação mãe/filha normal. Até que a vida resolveu dar-lhe a volta outra vez e roubar-lhe o seu pilar. Num acidente estúpido perdeu o seu companheiro de quase 20 anos, e ficou com sequelas graves que a impossibilitaram de fazer uma vida normal. Sem emprego, com uma pensão de sobrevivência pequena, pequena, a recuperar de um traumatismo craniano e com a mão direita semi-paralizada, arregaçou as mangas e fez-se à vida para que nada nos faltasse. Quando eu hoje falo no assunto, ela diz que não se lembra disso (pois sim...), mas eu lembro-me (tinha 14/15 anos, já percebia as coisas) de ela não comer algumas vezes para nós comermos. Com restos de amostras de tecido que uma vizinha lhe dava, fez-nos a roupa que nos faltava (tinha a mão direita semi-paralisada, lembram-se?). Contava os tostões, até ao centavo. Fez das tripas coração, mas conseguiu.  Conseguiu, do alto do seu metro e quarenta (isso mesmo!), criar duas filhas que se orgulham muito, muito, muito da mãe e da pessoa que ela é. E digo com toda a propriedade, É A MELHOR MÃE DO MUNDO.

Percebem agora porque é que eles são os meus heróis? Eu só espero que os meus filhos um dia tenham tanto orgulho em mim, como eu tenho nos meus pais.

18 comentários:

  1. É tão bom ter uns pais assim. Fico feliz por ti! :)

    Bom fim-de-semana.
    Um beijinho

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    1. Obrigada Sofia.

      Um bom fim-de-semana para ti também.

      Beijo

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  2. E hão-de ter com toda a certeza!
    Obrigada pela partilha é sempre bom conhecer-mos um pouco mais que está desse lado.
    beijinho

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    1. Estes desafios têm essa qualidade, dar-nos a conhecre um bocadinho ao outros. Obrigada Ana.

      Beijo e bom fim-de-semana

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  3. Até me arrepiei ao ler este teu post. Grande pais, sim senhora. Muito tens de te orgulhar! Bj**

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    1. Mesmo grandes (embora a minha mãe seja pequenina:)). Obrigada Tanita, sei que é um assunto dfícil para ti.

      Beijinho e bom fim-de-semana

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  4. ja me puseste emocionada.
    tens que ter muito orgulho sim.
    bj

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    1. Anita, obrigada. Quando vi este tema no teu desafio, soube logo que era a história deles que tinha que partilhar.

      Beijo e bom fim-de-semana.

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  5. Possas agora fiquei comovida.
    Bjs.

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  6. Sei desse orgulho de que falas!
    Perdi a minha mãe aos 16 anos e o meu pai pouco depois de ter feito os 31... trabalharam muito, não tanto como os teus pais, mas ensinaram-me o valor das coisas!
    Os teus pais foram e sempre serão heróis!

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    1. Faz-me bem falar deles, sabes? Acho que acaba por ser uma maneira de me fazer andar para a frente, principalmente nos dias em que me sinto a fraquejar.

      Bom fim-de-semana Naná.

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  7. Querida Carla, gostei muito desta tua homenagem, aos teus pais. E ainda nos queixamos das dificuldades da vida, dos dias de hoje... os nossos pais, passaram por muito mais dificuldades e tornaram-se pessoas dignas e de que nos orgulhamos.
    Beijinhos.

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    1. Obrigada Turista. Quando estou em baixo é neles que penso, é na sua capacidade de reinventarem perante as dificuldades.

      Beijinho

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  8. Oh Carla conseguiste por-me com a lágrima no olho :)
    Linda homenagem aos teus pais. Bj.

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  9. É uma história de deixar lágrimas nos olhos. Realmente, tens muito de que te orgulhar!

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    1. Obrigada. É a eles e à sua história que vou buscar força para o passar dos meus dias.

      Beijinho.

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